Resumo: A pesquisa transdisciplinar é fundamental para enfrentar desafios complexos, integrando ciência e saberes extra-acadêmicos para soluções sustentáveis. No Brasil, sua institucionalização enfrenta desafios em financiamento, avaliação e formação. O Grupo Temático explora como a transdisciplinaridade pode fortalecer o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), destacando desafios, mudanças institucionais e a necessidade de uma ciência mais inclusiva e alinhada às demandas sociais. Rumo à COP30, o GT busca fomentar recomendações para a Agenda 2030 e a convergência das convenções sobre clima, biodiversidade e desertificação, com foco em CT&I, além de reunir pesquisadores para debate sobre os tópicos seguintes: i) mudanças institucionais e fortalecimento do SNCTI: Quais barreiras limitam a pesquisa transdisciplinar no Brasil? Como agências de fomento e universidades podem incentivar a coprodução transdisciplinar de conhecimentos? De que forma a transdisciplinaridade torna o SNCTI mais inclusivo e responsivo a demandas sociais? Que mudanças institucionais são necessárias para fortalecer a pesquisa transdisciplinar? ii) fomento à pesquisa transdisciplinar no Brasil: Quais mecanismos são estratégicos para promovê-la? Que casos de sucesso orientam políticas públicas? Que incentivos financeiros estimulam colaborações duradouras? Como as agências de fomento a têm abordado? iii) transdisciplinaridade e a Agenda 2030: Como a pesquisa transdisciplinar pode acelerar a Agenda 2030 no Brasil? Quais desafios e oportunidades existem para integrá-las às políticas públicas? Como a transdisciplinaridade pode potencializar a sinergia entre as três Convenções da ONU (Clima, Biodiversidade e Desertificação)? iv) pesquisa transdisciplinar, engajamento público e impacto social: Como a transdisciplinaridade fortalece o engajamento público e amplia o impacto social da ciência? De que forma a participação social legitima a ciência em desafios globais? Como medir o impacto e a efetividade da pesquisa transdisciplinar no SNCTI? v) cultura acadêmica e avaliação científica: Como superar a resistência à transdisciplinaridade? Como adaptar a avaliação da CAPES, CNPq e FAPs para valorizar a pesquisa transdisciplinar? Quais as limitações dos modelos tradicionais de avaliação acadêmica e como reconhecer pesquisadores transdisciplinares?
Coordenadores: Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)), Lara Ramos Monteiro Silva (UNICAMP), Patricia Miranda Menezes (Rede ODS Brasil)
Debatedora: Lillian Maria Araujo de Rezende Alvares (UNB)
17/09/2025 – Sessão 01
- Horário: 14:00 – 16:00
- Local: Mirante do Rio – sala 209 (2o andar)
Do planejamento à prática: limites institucionais no avanço do fomento à pesquisa transdisciplinar no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)), Lillian Maria Araujo de Rezende Alvares (UNB)
A pesquisa transdisciplinar (TDR) oferece uma abordagem robusta para enfrentar desafios sociais complexos, integrando perspectivas acadêmicas e não acadêmicas na produção de conhecimento científico. Enquanto agências internacionais de fomento vêm adotando cada vez mais a TDR, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem mostrado dificuldades em avançar nesse modelo, apesar de seu reconhecimento formal da importância dessa abordagem, expresso em seus documentos oficiais de planejamento. Este trabalho investiga até que ponto o CNPq incorporou a transdisciplinaridade em suas práticas e instrumentos de fomento na última década. Por meio da análise de documentos e da realização de um grupo focal com alguns servidores daquela agência responsáveis pela gestão de chamadas públicas e programas de pesquisa, o estudo revela lacunas significativas entre o discurso e a implementação. Embora os documentos institucionais de planejamento indiquem as abordagens inter e transdisciplinar como essenciais para aumentar a relevância e impacto social da Agência, as iniciativas reais permanecem limitadas. A inércia institucional, a rigidez burocrática e os vieses disciplinares nos processos de revisão por pares figuram entre os principais obstáculos. O artigo conclui propondo mudanças institucionais para alinhar os mecanismos de financiamento com as complexas demandas de conhecimento da sociedade brasileira.
Desafios Climáticos: educação ambiental crítica em estratégias lúdicas para o desenvolvimento da consciência climática em adolescentes – Kílvia de Nazaré de Queiroz da Conceição (UFRA)
As mudanças climáticas representam um grande desafio. Seus efeitos são sentidos em todo o planeta e resultam das ações humanas desde a Revolução Industrial e das desigualdades sociais Apesar da gravidade do problema, este é um tema de difícil abordagem em contexto escolar. O objetivo foi desenvolver uma solução lúdica para abordar a questão climática com adolescentes. Duas turmas de escolas estaduais de Capitão Poço, Pará, participaram da pesquisa. A metodologia consistiu em levantamento de conhecimentos prévios sobre “mudanças climáticas” em roda de conversa. Após, foi aplicado um jogo da memória virtual. A cada rodada, um membro de cada equipe deveria encontrar um par de cartas com os temas consumismo, produção industrial, queimadas, desmatamento, urbanização. Ao encontrar, o estudante deveria responder uma pergunta sobre o tema da carta e sua relação com o clima. Ao final do jogo, um ambiente virtual desflorestado era reflorestado, evidenciando a importância da cooperação para a conservação das florestas e para a manutenção do clima. Foi feita a análise das respostas da roda de conversa, das perguntas do jogo e de entrevistas semiestruturadas aplicadas após o jogo. Os resultados mostraram compreensão da relação entre atividades humanas e mudanças climáticas, necessária para a formação de cidadãos críticos e ressaltaram a importância de propostas educativas sobre alterações climáticas, abordando os conceitos fundamentais e ações para mitigar o problema. Ao fazê-lo, as escolas equiparão os alunos para enfrentar os desafios climáticos.
PROUNI e FIES sob disputa: coalizões de defesa e a dualidade estrutural – Izzadora Porcote (UFPR), Noela Invernizzi (Universidade Federal do Paraná)
Este trabalho analisa as tensões entre mercantilização e democratização no processo de ampliação do acesso à educação superior no Brasil, com ênfase na atuação da coalizão de defesa privatista no subsistema de políticas públicas educacionais. Tendo a universidade como locus de produção e circulação do conhecimento, a investigação se concentra nos programas PROUNI e FIES, que, embora ampliem o acesso, operam sob lógica de mercado. A pesquisa adota abordagem qualitativa, combinando revisão bibliográfica, análise documental, estatística descritiva e síntese de estudos prévios. Os resultados indicam que essas políticas reforçam a dependência do setor privado, impulsionando a expansão de instituições com fins lucrativos e consolidando a atuação da coalizão privatista como dominante. Conclui-se que a democratização do acesso, quando mediada por mecanismos mercantis, gera contradições importantes, como a fragilidade das políticas de permanência e o comprometimento da qualidade do ensino, reafirmando a necessidade de políticas públicas que articulem ampliação do acesso com a valorização da universidade pública como bem comum.
Energia Eólica no Brasil: trajetórias, tecnologia e concepções de Controle – Julio Cesar Donadone (UFSCAR), Paulo Renato Peruchi (NESEFi-UFSCar)
O presente trabalho tem como objetivo entender a trajetória da energia eólica no Brasil e seu desenvolvimento tecnológico, bem como as lógicas e concepções de controle que tem contribuído para a sua construção. Para tanto aborda o período (2002-2022) e busca verificar como as possíveis interações entre diferentes elementos e espaços sociais podem afetar o desenvolvimento tecnológico, e utiliza o suporte teórico de Sistemas Tecnológicos e elementos da Sociologia Econômica, Sociologia dos Mercados e da Política Científica e Tecnológica (PCT), proporcionando uma abordagem ampla e interdisciplinar inerente aos estudos do campo CTS. Nesse sentido a energia eólica no Brasil é analisada com a utilização de diferentes perspectivas: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEÓLICA), pesquisas desenvolvidas nas universidades brasileiras e a produção nacional de aerogeradores. Os dados e análises realizadas apontam para a centralidade da Política Energética na trajetória da energia eólica no Brasil, bem como a aproximação do setor eólico nacional com o mercado e com elementos da lógica econômico-financeira, os quais contribuíram para o grande crescimento da capacidade instalada e para a construção do mercado relacionado à energia eólica, porém limitaram o desenvolvimento tecnológico em questão. No tocante a perspectiva do MCTI para a energia eólica, a pesquisa proporciona reflexões referentes a aproximação com o mercado e o surgimento de uma concepção de controle realizada por intermediários.
Águafloresta – Reflorestamento Contra Incêndios – André Pereira Wanderley de São Thiago (UFF)
A perda da cobertura florestal sobre a superfície terrestre nos últimos anos tem sido algo assustador. É angustiante ver a vida entrando em combustão. Algo precisa ser feito. Depois que pega fogo, sabemos que é muito difícil apagar. Pelo tamanho e complexidade do território, uma vez que o incêndio se alastra, torna-se quase impossível contê-lo. Mas o que podemos fazer antes de deixar pegar fogo? E se, em áreas vulneráveis aos incêndios, já atingidas ou não, existisse uma vegetação capaz de frear o fogo? Imagine locais estratégicos com uma floresta de baixa inflamabilidade, onde o que normalmente é combustível se torna o principal retardante das chamas. Em outras palavras: é possível criar uma floresta d’água, uma águafloresta, que não pegue fogo? São esses questionamentos e hipóteses que movem nossas pesquisas.a capacidade de liberação de água, no momento do incêndio, de uma vegetação pensada para isso é muito maior do que a capacidade de qualquer máquina ou tecnologia artificial que use a água como agente extintor. Muitas vezes, são nos lugares mais secos que as espécies possuem a maior capacidade de retenção hídrica. Cada espécie tem sua função, cada indivíduo, sua missão específica dentro do contexto em que está inserido. A natureza é muito sábia. Cabe a nós entendê-la e utilizá-la: empregar as tecnologias naturais da vida para combater o que tem ameaçado a própria vida. Criar, por meio da vegetação, um grande bolsão d’água, localizado estrategicamente e pré-disposto a enfraquecer o fogo em caso de incêndio. Ou seja, antecipar-se ao problema.